Fui só elogios para o primeiro arco de Fugitivos na minha review do encadernado da Panini. Os personagens que eu conhecia “só de vista” me conquistaram de vez, então obviamente eu quis ler o que vinha a seguir nas aventuras deles.
A Panini continua sua publicação de Fugitivos — A Coleção, sendo que os volumes 2 e 3 completam o material que corresponde à primeira revista da “não-equipe”, antes de seu relançamento em 2005. Não é o fim da fase de Brian K. Vaughan/Adrian Alphona, já que eles continuariam no título que criaram até a edição 24 da versão relançada.
Volume 2 — Angústia Adolescente
Ano passado eu estava maratonando Buffy — A Caça-Vampiros logo antes de ler o volume 1 da coleção dos Fugitivos. Ficou nítida pra mim a influência que a série cult de Joss Whedon tinha em Fugitivos (inclusive, Whedon escreveria a HQ depois do Vaughan). O volume 2 escancara de vez a influência de Buffy, chegando a citar diretamente a série.
O arco Angústia Adolescente mostra a adaptação dos seis jovens à sua nova realidade de Fugitivos. Ainda planejando como derrotar seus pais, eles decidem se tornar vigilantes como uma forma de treinamento para enfrentar O Orgulho.
Nisso, eles conhecem Topher, supostamente um garoto que também possui pais malvados. Por que “supostamente”? Porque na verdade Topher é um vampiro que só se aproxima dos Fugitivos para beber o sangue deles.
Esse arco é importante por conta do desenvolvimento dos personagens. É possível entender um pouco mais dos conflitos internos de cada um e a dinâmica entre eles também. Vemos, por exemplo, o primeiro sinal de que Karolina é lésbica, o que obviamente vai ser um elemento importante da personagem no futuro. E é interessante ver como Topher, mesmo antes de se revelar um vampiro, abala as relações entre os Fugitivos.
O volume 2 traz ainda um arco de duas partes chamado Achados e Perdidos. Nele, os super-heróis Manto e Adaga são chamados para capturar os Fugitivos, acreditando que eles sequestraram a Molly. A história é legal, mas sua única função é estabelecer um elo entre Fugitivos e o resto do Universo Marvel, além de dar uma explicação do porquê os super-heróis nunca impediram O Orgulho.
Volume 3 — Os Bons Morrem Jovens
O curioso de ler alguns quadrinhos antigos pela primeira vez é o fato que eu já conhecer boa parte do futuro dos personagens e, portanto, chegar a essa primeira leitura já com alguns spoilers.
Eu conheço os Fugitivos há anos, então já sabia que havia um traidor na equipe e quem era esse traidor, a minha curiosidade era ver como isso aconteceu. E provando que spoilers não arruinam uma boa história, Brian K. Vaughan conseguiu me prender (e até me surpreender!) mesmo com o meu conhecimento prévio.
Sim, Alex era um traidor. Mas mesmo sabendo disso, o caminho para saber como aconteceu foi eletrizante. Era praticamente impossível suspeitar do Alex. Tudo levaria a crer que a traidora era Karolina, afinal ela era a personagem menos desenvolvida e a que mais tinha dúvidas quanto a tudo o que estava acontecendo.
Mesmo considerando o Alex um suspeito, era difícil crer que ele trairia os colegas tão friamente, me fazendo acreditar que ele tinha alguma boa intenção (distorcida) por trás disso ou estava sendo ingenuamente enganado pelos pais.
Mas não. Alex era mais vilão que o próprio Orgulho, meticulosamente manipulando a tudo e a todos para alcançar a vida eterna.
Isso comprova a habilidade do Brian K. Vaughan como autor. A revelação do Alex como antagonista não é um mero recurso para criar shock value. Saber a identidade do traidor não enfraquece a história porque é apenas um elemento de um final construído com maestria.
Ao final do volume, o autor prepara o terreno para a segunda revista da não-equipe. Mas o fato é que a primeira revista já é por si só um exemplo de HQ quase perfeita: uma narrativa bem elaborada, moderna e com um elenco de personagens diverso com dilemas pessoais e interpessoais. Fugitivos envelheceu como vinho. Uma leitura boa e atual, seja em 2004 ou 2023.